quarta-feira, junho 17, 2015

Revista Sou Trofense | Entrevista com o capitão Tiago

Hoje trazemos-vos até vocês, aquele que certamente ao qual as palavras de capitão, raça e paixão correspondem na perfeição. Hoje trazemos-vos até vocês a entrevista a um Senhor que representa a alma, a raça e a coragem Trofense ao mais alto nível do seu "esplendor". Hoje trazemos-vos a entrevista a um jogador que iniciou a sua carreira futebolística na formação do clube Trofense, que passou por alguns dos maiores e mais carismáticos clubes em Portugal, incluindo os grandes SL Benfica e FC Porto, que teve experiências cheias de sucesso "além-fronteiras" e que na hora de escolher entre duas equipas que militavam na Primeira Liga Portuguesa e que ofereciam contratos "chorudos", e o clube da sua Terra e do seu coração, mas que não oferecia nem de perto nem de longe os milhares de euros que este poderia aferir nessas duas equipas de primeiro escalão, este escolheu por amor ...representar o Clube Desportivo Trofense. Hoje trazemos-vos até vocês aquele que transporta consigo a chama e o orgulho Trofense, aquele que coloca o clube da sua terra acima dos seus demais interesses e que dentro e fora do campo é respeitado e visto por todos como um exemplo. Hoje trazemos-vos até vocês a entrevista ao nosso grande capitão....Tiago!

Quem é?

Nome Tiago César Moreira Pereira
Nacionalidade Portugal
Nascimento 1975-07-04 (39 anos)
Naturalidade Trofa - Portugal
Posição Médio (Médio Defensivo)
Pé preferencial Direito
Altura 173cm
Peso 73 kg
Equipa CD Trofense

ST: Fizeste a tua formação ao serviço do CD Trofense. Como descreves esses tempos, e o que te vem mais à memória quando te lembras dos mesmos?
T: Como sabem iniciei a minha carreira nas camadas jovens do CD Trofense desde os meus 10\11 anos até aos 17. Ainda com idade de júnior, fiz o meu segundo ano pela equipa profissional que na altura estava na Segunda B (actual CNS). De facto não foi nada fácil porque não haviam condições como as de hoje em dia. Não haviam campos, treinávamos pelas ruas da Trofa e apenas uma vez por semana, íamos treinar a um campo emprestado que ainda era pelado. Deste modo, só com força de vontade, ambição, paixão e querer é que consegui chegar onde cheguei mesmo perante todas estas adversidades.

ST: Tinhas o futebol apenas como um "hobbie", ou querias fazer do mesmo a tua carreira?
T: Sinceramente quando era miúdo não pensava em ter uma carreira desportiva. No entanto, comecei por jogar com os meus amigos em frente à minha casa e nos intervalos da escola. Desde então, decidi ir para o Trofense pois gostava de jogar futebol e tinha prazer em fazê-lo.

ST: Depois do Trofense, seguiste para o Famalicão que na altura alinhava na primeira liga Portuguesa. Como surgiu essa oportunidade e o que levou a agarrar a mesma?
T: Na altura, aos 17 anos, ao serviço do Trofense, jogava pelos seniores. Era titular e para além de estar a fazer uma boa época e ser chamado à selecção Sub-18, despertei a cobiça de alguns clubes nomeadamente o Famalicão e o Vitória de Guimarães. Desde então, optei pelo Famalicão uma vez que me deram garantias de que iria ficar no plantel principal, ao contrário do que acontecia no Guimarães que seria emprestado a uma equipa satélite. Curiosamente, depois de recentemente ter trabalhado com o Profírio Amorim, na altura do Famalicão ele era o secretário-técnico juntamente com o treinador José Piruta que deram garantias ao presidente desse clube para ficar no plantel visto que já me tinham observado em alguns jogos na Trofa.

ST: Após a passagem pelo Famalicão, chegas-te ao Marítimo. O que sentiste no momento em que assinaste pelo clube Madeirense?
T: Depois de duas épocas bastantes positivas no Famalicão, surgiu-me a oportunidade de assinar pelo Marítimo que na altura lutava pelos lugares europeus. Sinceramente não estava à espera desta oportunidade porque estava tudo a acontecer muito rápido. Era época após época a ter boas exibições. Com 18 anos de idade ser titular no Famalicão, na 1ª divisão, era algo de especial o que também foi fruto da minha ida para este clube Madeirense.

ST: Mas o teu percurso de sucesso no mundo do futebol continuou, e depois de grandes
exibições ao serviço do Marítimo, chegas então a um grande de Portugal: O SL Benfica. Era o teu grande sonho, representar um grande de Portugal? Qual foi a sensação e o que esperavas desse grande passo na tua carreira?
T: Como disse anteriormente, tudo estava a acontecer muito rápido e esta oportunidade após uma época e meia no Marítimo, foi algo inesperado. Continuei a ter boas exibições neste clube, nomeadamente a chamada à selecção Sub-20. Quando na altura o meu empresário José Veiga me deu conhecimento do interesse por parte do Benfica, nem queria acreditar. Era e continuará a ser um grande clube, outra realidade e um sonho para qualquer atleta chegar a um clube como este.

ST: Essa chegada ao Benfica foi também muito controversa, tendo tu afirmado que saías do Marítimo por teres medo de andar de avião. Tens mesmo medo de andar de avião, ou simplesmente na altura sentiste que o contrato que o Benfica te tinha oferecido era daqueles "comboios que passam uma vez só" e tentas-te fazer de tudo para assinar pelo clube da Luz? Agora uns anos após esse "episódio", o que nos podes dizer sobre a saída do Marítimo e a assinatura pelo SL Benfica? 
T: De facto, o motivo pela qual saí do Marítimo foi devido à rescisão do contrato com justa causa de vencimentos em atraso, onde também aleguei que tinha receio em aterrar na Madeira. Na altura, a pista era metade de aquilo que é hoje o que fez com que ainda apanhasse alguns sustos. Assim sendo, estive um mês à espera da decisão, o que me foi favorável. Durante esse período de tempo tive algumas ofertas, nomeadamente a do Benfica que não me levou a pensar duas vezes.

ST: Quais foram os jogos que mais te marcaram nessa passagem pelo SL Benfica? E porquê?
T: Sem dúvida que um dos jogos mais importantes na minha passagem pelo Benfica, foi a minha estreia com o Sporting. Um clássico onde ganhamos um a zero. Nada melhor poderia ter acontecido uma vez que era um jovem que chegara a um clube com a grandeza que tem e a uma outra realidade. Uma estreia com uma vitória, num dérbi, perante um grande clube.
Outro jogo que também me marcou foi a meia-final da Taça de Portugal com o F.C.Porto onde ganhámos por 3-1, na luz, que deu-nos acesso à final.
Sem dúvida dois jogos marcantes porque, num curto espaço de tempo, joguei dois clássicos.

ST: Como descreves essa passagem pelo SL Benfica?
T: Uma passagem bastante positiva em termos individuais. Apesar disto, em termos colectivos, que é
o mais importante, não conseguimos alcançar os nossos objectivos. Uma das coisas que não estava à espera que me viesse a acontecer, foi o facto de ter sido dispensado pelo treinador Graeme Souness. Um mês antes de terminar a temporada, num jogo realizado no reduto do Sporting, no qual o Benfica ganhou 4-1 e onde eu fiz uma exibição soberba, na semana após o jogo, em conferência de imprensa, um jornalista fez-lhe uma pergunta sobre mim no qual o treinador disse que era um jogador útil a qualquer equipa. Após isso e para o meu espanto, na pré-época o treinador dispensou-me alegando que era um jovem e que precisava de ganhar experiência. Essa época foi bastante difícil porque esse treinador foi buscar vários jogadores ingleses da confiança dele … talvez fosse esse o motivo. Outro ponto marcante, que jamais irei esquecer, foi o facto de um grupo de sócios fazer um baixo assinado para que eu não fosse dispensado e, por sua vez, permanecesse no Benfica.

ST: Como era o SL Benfica desses tempos? Quais são as grandes diferenças entre esse SL Benfica e o SL Benfica de agora (pelo menos visto por fora)?
T: Na minha altura, o Benfica não era um clube estável nem bem organizado ao contrário do que é hoje. Aqui está a diferença para os últimos anos de sucesso.

ST: Após o SL Benfica (em 1998/99), rumaste á tua primeira experiência em territórios internacionais, quando rumas-te ao Rayo Vallecano que actuava na segunda liga Espanhola. O que levou a trocar o Benfica pelo Rayo Vallecano? Melhores condições financeiras ou porque procuravas uma experiência fora de Portugal?
T: Na altura fui emprestado pelo Benfica ao Rayo Vallecano que se encontrava na segunda liga. Em Portugal, tinha a opção da Académica mas optei pela segunda liga espanhola. Optei devido à experiência e também por apesar de se encontrar na segunda liga, ser uma liga bastante competitiva e não esquecendo claro os motivos financeiros que, na altura, eram bastante vantajosos.

ST: A verdade é que no final dessa época (1998/99), o Rayo Vallecano conseguiu assegurar a promoção á primeira liga espanhola. Como é que relembras esse momento?
T: O facto de o Rayo Vallecano conseguir assegurar a promoção á primeira liga espanhola, foi um momento inesquecível. Foi decidido no último jogo em casa em que ganhamos por dois a zero e fiz o golo da vitória. Um estádio completamente cheio, com cerca de 70 mil pessoas. Toda aquela invasão de campo, a festa no balneário e a comemoração na praça em Madrid, onde o Real Madrid faz os festejos, serão momentos para sempre relembrados.

ST: No final dessa época, abandonas-te o Rayo Vallecano e ingressaste no Tenerife que também alinhava na segunda liga espanhola. O que nos podes contar sobre essa experiência?
T: O ida para o Tenerife, depois de ter jogado no Rayo Vallecano, foi uma época positiva a nível pessoal. Em termos colectivos, tínhamos o objectivo de subir de divisão, o que foi impossível. Apesar de tudo, o clube fez um grande investimento no plantel. Relembro ainda alguns jogadores que jogaram comigo no Tenerife nomeadamente o Costinha, o Emerson e também o Bruno Caires.

ST: Após a experiência no Tenerife, retornas a Portugal para representar o Leiria que actuava na primeira liga. O que te levou a voltar a Portugal e a ingressar no Leiria?
T: O que me levou a regressar a Portugal foi a vontade que o treinador, Manuel José, tinha em que eu fosse jogar para o Leiria. Também pelo facto de a proposta ser muito vantajosa e ter um contrato de três anos. Sendo também o meu objectivo, regressar a Portugal.

ST: Nas duas épocas (2000/01 e 2001/02) que representaste o Leiria, realizas-te 61 jogos e marcas-te dois golos. Numa dessas época (2001/02), foste orientado por (agora) um dos melhores treinadores do mundo, José Mourinho. Como foi trabalhar com o "Special One"? Quais são as grandes diferenças entre ele e os demais treinadores e que fazem dele especial?
T: O facto de ter sido orientado por um dos melhores treinadores do mundo, José Mourinho, foi para mim um motivo de orgulho. Um treinador, ao contrário do que as pessoas pensam, bastante alegre, acessível e organizado. Mas claro que também tem o seu lado exigente. Um técnico com convicções fortes, que transpira confiança, mas que acima de tudo, tem o dom de passar isso para os jogadores. Já para não falar dos seus métodos de trabalho que são fantásticos. Treinos muito atractivos, dinâmicos e motivadores onde todos os jogadores se aplicam.

ST: Após o Leiria, chegaste novamente a um grande de Portugal, desta vez ao FC Porto (em 2002)(acompanhando também José Mourinho). Como recebes-te essa proposta?
T: A proposta surgiu a partir do momento que José Mourinho leva três jogadores consigo para um dos grandes clubes de Portugal, o FC Porto nomeadamente eu, o Nuno Valente e o Derlei. Sem dúvida uma excelente proposta que não me fez pensar duas vezes. Nesse ano, correu tudo bastante bem, tanto a nível pessoal como colectivo. Em termos colectivos, atingimos o grande objectivo do clube e ganhámos tudo: o Campeonato Nacional, a Supertaça, a Taça de Portugal e a Taça UEFA. Sem dúvida quem em termos desportivos foram os melhores momentos que vivi ao longo de toda a minha carreira.

ST: Nessa época de 2002/03, fizeste parte do plantel que venceu a Taça UEFA (actual Liga Europa). Foi um momento muito especial para ti? 
T: Como disse anteriormente, nesse ano conseguimos ganhar tudo sendo uma das coisas a Taça UEFA. Como é óbvio, não está ao alcance de qualquer profissional alcançar a actual Liga Europa. Um momento único e muito marcante. Tudo aquilo que envolveu o jogo, antes e após, desde o jogo em Sevilha, a chegada ao aeroporto e, para finalizar, a grande e única festa no estádio do dragão. Uma loucura!!

ST: Que momentos guardas religiosamente dos tempos que representaste os dragões? Marcou-te mais esta passagem pelo FC Porto ou a passagem pelo SL Benfica? Quais foram as diferenças internas que te deparas-te entre os dragões e as águias?
T: Os momentos mais marcantes e que guardarei para sempre dos tempos em que representei os dragões foram, sem dúvida, a conquista de todos aqueles títulos. Sinceramente é bastante difícil dizer qual das passagens me marcou mais, se a do FC Porto ou a do SL Benfica. Foram momentos diferentes. No FC Porto foi, sem dúvida, pelas conquistas. E no SL Benfica pela grandeza do clube.
Na altura, o FC Porto era um clube fechado, estável e organizado. Já o SL Benfica era um clube que, na minha altura, não tinha estabilidade.

ST: Na época de 2004, regressaste ao Leiria por empréstimo do FC Porto e depois ingressaste no Boavista. Lá permaneceste entre 2004 e 2007, tendo realizado 80 jogos e apontado 1 golo. A equipa axadrezada foi (e continua a ser) especial para ti? Quais foram os melhores e os piores momentos de pantera?
T: Sem dúvida que foi um prazer representar mais um grande clube, desta vez o Boavista. Um clube que, na minha altura, lutava sempre pelas competições europeias. Foram três épocas bastante positivas e um clube que ainda hoje simpatizo bastante. Para mim, um dos melhores momentos foi o facto de ter apanhado um dos melhores grupos ao longo da minha vida profissional, a nível de companheirismo.

ST: Entre 2007 e 2009 voltaste a representar o Leiria, tendo culminado essa última passagem pelo clube Leiriense, com uma descida á segunda liga (2007/08) e com uma subida á primeira liga (2008/09). Como foram esses dois momentos de diferentes "sabores" para ti?
T: No primeiro ano, dessa época, em que regressei ao Leiria, descemos de divisão. Um momento de tristeza e desilusão porque tínhamos como objectivo a manutenção face à qualidade do nosso plantel.
No ano a seguir, na segunda liga, que para mim era novidade, subimos de divisão. Mais um momento marcante, desta vez, um momento de felicidade. Um clube que ainda hoje me diz muito atendendo às temporadas que lá estive, no total foram cinco épocas e meia.

ST: Depois de muitos anos a representar grandes clubes em Portugal e depois de algumas experiências fora de Portugal, com muitas épocas cheias de sucessos e alguns insucessos e após 16 anos voltas à casa mãe...o Clube Desportivo Trofense (em 2009/10). Como surgiu essa oportunidade e o que te levou a voltar ao clube Trofense e logo uma época após este descer da primeira á segunda liga portuguesa?
T: Sempre tive o objectivo de regressar ao clube da terra. Em todas as minhas entrevistas salientava este facto. Esta possibilidade surgiu a partir do momento em que me contactaram para representar as cores do clube da terra, na segunda liga. Como na altura era conhecimento público visto que saiu na imprensa, tinha dois clubes na primeira divisão nomeadamente o Leiria, depois da subida de divisão e também o Rio Ave. Em termos financeiros, como é óbvio, tanto um como outro, eram muito vantajosos para mim. Mas, nessa altura, o mais importante não era o dinheiro mas sim a minha estabilidade familiar e concretizar o meu sonho de regressar ao clube do meu coração e poder ajudar o mesmo.

ST: Desde essa época (2009/10) até este momento e depois de 5 anos a envergares símbolo
Trofense ao peito e a capitanear os vários planteis Trofenses, sentes que fizeste bem em regressar à "casa-mãe"? Quais foram os melhores momentos que viveste como capitão do clube da Trofa? E os piores?
T: Sim, sem dúvida que fiz bem em regressar à “casa-mãe”. Como referi anteriormente era de facto um dos meus objectivos e não me arrependo de nada, pelo contrário. De entre muitos bons momentos que vivi neste clube, uns dos melhores momentos foram os meus golos. Não estava a passar por uma fase boa, a nível pessoal e como normalmente não faço golos, foi bastante bom. O facto de ter uma T-shirt por baixo do equipamento com a fotografia da minha filha e ir dedica-los à bancada, foram emoções fortes e momentos inesquecíveis. O pior momento que vivi como capitão do Trofense, foi o último jogo, nos Açores (época 2010/11), com o Santa Clara, onde ficamos a um ponto da subida.


ST: O que significa para ti, seres capitão do Trofense?
T: Logicamente que é muito especial ser capitão, mas melhor ainda é ser capitão do clube do meu coração. Sou um atleta respeitado, tanto pelos adeptos como pelos colegas. Os colegas de equipa sentem que sou uma referência também por tudo o que vivi no passado e também pela minha experiência.


ST: Chegaste a referir que o teu grande sonho era representar o clube Trofense na primeira
liga. Na época de 2010/11, o Trofense esteve perto de atingir novamente a primeira liga, ficando a apenas 1 ponto dos dois primeiros classificados. Na tua opinião, o que faltou e o que falhou á equipa Trofense para atingir esse objectivo? Como encaras-te esse final dramático (de não atingir a primeira liga por 1 ponto)?
T: Não foi um momento nada fácil. Um momento de tristeza e de desilusão. Merecíamos ter subido de divisão face à época que fizemos. Mas, no futebol, muitas das vezes, há muitas adversidades e injustiças. Relativamente a este facto, é de salientar que fomos penalizados no jogo com o Gil Vicente e o Leixões, em casa. Dois jogos muito importantes e determinantes.

ST: A partir dessa época, o CD Trofense começou a passar por muitas dificuldades financeiras e desportivas, tendo vindo a ficar por várias vezes perto da descida de divisão, até que esta época e infelizmente o clube da Trofa, dez anos após a subida aos campeonatos profissionais, volta aos campeonatos "amadores" (CNS). Quais foram as razões da descida? Como sentias a equipa de jogo para jogo? És da opinião de muitos adeptos, de que muitos jogadores não tinham paixão ao clube e não queriam saber se ganhavam ou perdiam?
T: De facto, faz parte do futebol. Umas equipas descem, outras sobem. Já presenciei as duas situações e como é óbvio a descida não é nada fácil. Este ano, ninguém previa que tal coisa fosse acontecer. Assim sendo, dez anos após a subida aos campeonatos profissionais, o Trofense volta aos campeonatos “amadores”.Sentíamos mais dificuldades nos jogos em casa. Não sei se era devido à pressão dos nossos adeptos atendendo à nossa situação visto que também era uma equipa muito jovem. Quando as coisas não correm como queremos, temos de estar à espera do que os adeptos possam dizer. Estão no direito deles. No entanto, nós, jogadores, tentamos fazer o melhor em prol do clube.

ST: Durante esta época trabalhaste com três treinadores. O que nos podes dizer sobre cada um (Porfírio, Campelos e Vítor)?
T: Em relação ao treinador, Porfírio Amorim, no ano em que estivemos a um ponto da subida fez um excelente trabalho no seu primeiro ano ao serviço do Trofense. Um treinador competente, exigente e bom profissional. Infelizmente, face aos resultados negativos da equipa, Porfírio Amorim, saiu deste clube a meio da época. Vítor Campelos um treinador jovem que não foi feliz no clube da Trofa.
Em relação ao treinador Vítor, acima de tudo, é um grande Trofense. Trabalho com ele há seis anos e admiro-o pelo seu carácter, pela sua dignidade e também pelo seu profissionalismo. Como treinador, tem todas as condições para triunfar no futebol.

ST: E quanto aos outros treinadores com quem trabalhaste no Trofense, algum te marcou de uma forma especial? Se sim, porquê?
T: Em geral, todos os treinadores com quem trabalhei no Trofense, marcaram-me de uma forma positiva.

ST: Quanto á formação do clube, qual é a tua opinião? Como classificas as condições que os jovens jogadores dispõem no clube da Trofa? Quais são os defeitos ou o que falta para a formação do CD Trofense ser ainda melhor?
T: Em geral, pelo que tenho conhecimento, é uma boa formação onde têm boas condições para desfrutarem, aprenderem e futuramente triunfarem.

ST: Durante estes anos no clube Trofense, capitaneaste alguns jogadores que vieram directamente da formação do mesmo. Algum te marcou mais pela personalidade e qualidade futebolística, ou por outro lado todos te marcaram por algum aspecto?
T: Em geral, todos os jogadores que trabalhei até à data vindos da formação, marcaram-me de uma forma bastante positiva. Pelo carácter e pela evolução no futebol, tanto a nível pessoal como profissional a quem eu ajudo e incentivo, não só como capitão, mas como amigo porque sei bem o que isso é e o quanto eu gostava que, na minha altura, me ajudassem.

ST: No global, achas que existe qualidade suficiente nos jovens jogadores Trofenses para integrarem a equipa principal e representá-la ao mais alto nível?
T: Sim, os jovens jogadores Trofenses tem qualidade para se integrarem na equipa principal. É uma questão de hábito, paciência e persistência.

ST: Que futuro vês para o clube da Trofa? A "ressurreição" ou a "morte"?
T: Todos nós temos conhecimento da crise económica que o clube tem vindo a passar mas, como é óbvio, espero a ressurreição do clube da Trofa. Já agora faço um apelo à comunidade Trofense que se unam neste momento difícil e que não deixem morrer o nosso clube com um grande histórico.

ST: E quanto ao teu futuro? Vais continuar a espalhar a tua garra e magia em campo, ou sentes que é altura de "pendurar as botas"?
T: Em relação ao meu futuro, neste momento, todos os cenários são possíveis. Sinceramente gostava de jogar mais uma época, a última, e acabar a minha carreira com 40 anos. Recentemente fui convidado por duas empresas para trabalhar, não propriamente para jogar futebol, mas sim para estar ligado à área do futebol, mas o meu objectivo é jogar mais um ano aqui no clube da minha terra, o Clube Desportivo Trofense, ao qual dou sempre prioridade. Sinto que sou capaz, independentemente da minha idade. Quem acompanhou os nossos jogos viu a minha motivação jogo após jogo e os meus índices físicos. Jamais irei deixar que acabem com a minha carreira profissional. Quando vir que é altura, eu sou o primeiro a fazê-lo. Esta decisão sou eu que a vou tomar. Digo desde já que, para mim, não é humilhação nenhuma jogar na Segunda B (CNS). Noutro clube terminaria a carreira mas, nesta situação, o amor pelo clube fala mais alto. Sinto que é meu dever ajudar o clube a voltar aos campeonatos profissionais. Por isso, a decisão ainda está por tomar.

ST: O Trofense é o teu futuro? Tens ainda o sonho de jogar pelo clube da tua terra na primeira
liga Portuguesa, ou achas difícil isso acontecer?
T: Sinceramente gostava de ficar ligado ao clube por ser o clube da terra e do meu coração. Este será o meu primeiro objectivo caso acabe o futebol. Se isto não acontecer, sem dúvida, que quero ficar ligado ao futebol. De facto gostava imenso de jogar na primeira liga Portuguesa pelo clube da terra mas derivada à situação, é impossível.

ST: Se fosses convidado a fazer parte da estrutura directiva do Trofense, aceitavas?
T: Sim.

ST: Sonhas ser presidente do Clube Desportivo Trofense, ou é algo que não tens como objectivo?
T: (Risos) Não, não é algo que tenha como objectivo.

ST: Durante a tua longa carreira, certamente partilhas-te o balneário com muitos jogadores, treinadores, roupeiros, etc... De quem tens melhores recordações e partilhas (vas) uma grande amizade?
T: Tinha uma boa relação com toda a estrutura dos clube. De entre muita gente com que partilhei o balneário, ainda hoje partilho muitas amizades.

ST: Até este momento e no global, que balanço fazes da tua carreira como jogador de futebol?
T: Uma carreira bastante positiva. Sinceramente não esperava ter um passado como tive. Representei grandes clubes, concretizei alguns dos meus sonhos e sem dúvida que me sinto um atleta
concretizado.

ST: Tiveste um grande percurso como futebolista, mas tens alguma mágoa por nunca teres sido chamado a representar a Selecção A de Portugal?
T: Sim sem dúvida! Atendendo ao meu percurso profissional, ficou esse sonho por concretizar! Um objectivo de qualquer atleta! É o expoente máximo! Mas compreendo, porque na altura a Selecção A Portuguesa era recheada de bons valores e com um leque de opções bastante grande! Com o devido respeito por quem a representa, mas penso que hoje seria mais fácil de representar a Selecção, que mesmo assim apresenta grande qualidade!

ST: Que conselho deixas aos jovens jogadores da formação do Trofense?
T: Em primeiro lugar, estes jovem têm as condições necessárias para chegarem o mais longe possível. Acima de tudo, nunca desistirem do grande sonho que é ser jogador de futebol. É certo que não é uma fase fácil da juventude mas se querem mesmo isto têm de se privar daquilo que mais gostam. Não é fácil verem os amigos irem jantar e saírem à noite mas um verdadeiro atleta tem que saber lidar com tudo isto. Não esquecendo claro os estudos. Com garra, querer e ambição nada é impossível! Lutem e desfrutem daquilo que mais gostam de fazer!

ST: Que palavras deixas aos sócios e simpatizantes do CD Trofense?
T: Um momento bastante delicado. Um mau momento a nível desportivo e financeiro.
Como capitão e representante do grupo, sinto que todos os Trofenses merecem um pedido de desculpas pela descida de divisão. Tanto os adeptos como o clube não mereciam. Faço um apelo a todos os restantes adeptos não como atleta mas sim como Trofense. São nestes momentos que os Trofenses se devem unir. Apesar de estarem tristes e desanimados com a descida, colaborem para que voltemos aos campeonatos profissionais. Vamos todos remar para o mesmo lado!!

ST: Há poucos dias recebemos também a triste notícia do falecimento do Lucas, jogador que partilhou o balneário contigo no Boavista e que partilhava também uma forte amizade contigo. Quais são os melhores momentos que te lembras de partilhar com ele? Queres aproveitar este momento para deixar também algumas palavras sobre o Lucas e de reconforto aos amigos e família deste grande campeão que infelizmente nos abandonou cedo demais e que deixou o futebol português mais pobre?
T: Sem dúvida um grande Homem. Um bom colega, sempre bem disposto, amigo do amigo e um bom companheiro de balneário. Sim, é verdade que a amizade permanecia. Tudo isto a partir do Boavista onde partilhamos três anos o mesmo balneário. Desde então, íamos juntos de férias, jantávamos juntos ou em minha casa ou na dele. Só para terem uma ideia dos nossos laços de amizade, quando ele estava a jogar em Belgrado, no Estrela Vermelha, foi-lhe detectado um problema no coração. Ligou-me de imediato a desabafar o sucedido, dizendo também que tinha sido eu a primeira pessoa a quem ele tinha dado esta triste noticia onde o Lucas se encontrava desolado e bastante comovido. Perante tal notícia, fiquei sem palavras naquele momento visto que nada previa tal coisa atendendo à capacidade física que ele tinha em campo. Infelizmente, no dia anterior do seu falecimento falamos por chamada para, no dia da sua partida, marcarmos um almoço, na Trofa, onde iríamos marcar mais umas férias partilhadas na qual tive a triste noticia. Um amigo que deixa saudades! Um amigo para a vida!

Curiosidades:

Número preferido: 66
Um filme que não esquece: “O sofrimento do amor”
Musica ou cantor(a) preferido(a): Anselmo Ralph
Uma cor que goste: Verde
Cidade que volta sempre: Tenerife
A viagem que falta fazer: Miami
Um herói: Pai e Avô
Jogador que mais admira(ou): João Pinto (Devido ao seu profissionalismo e pelas qualidades futebolísticas que o mesmo possuí. Acima de tudo admiro-o, pelo ser humano que é, e ainda hoje preservamos uma amizade muito próxima.)
Como ocupa os tempos livres: Descansar e conviver com a família e os amigos
Um programa de TV preferido: Sport TV
Comida que não resiste: Arroz de Frango


Legenda: ST: Sou Trofense; T: Tiago

Sem comentários: